A história do Século XX de Portugal esteve muito associada ao seu relacionamento com as nações africanas. Logo no seu início, em 1908, o então Rei de Portugal, Dom Carlos I, foi assassinado por republicanos na Praça do Comércio, junto ao Rio Tejo. Dom Carlos seguia a linhagem de Dom João VI e era bisneto de Dom Pedro I, Imperador do Brasil.
A oposição dos republicanos era óbvia, mas já vinha sendo alimentada por decisões tomadas por Dom Carlos I anos antes, cedendo à Inglaterra os territórios africanos que hoje correspondem à Zâmbia e ao Zimbabwe, que até então conectavam Angola à Moçambique, numa única possessão portuguesa de costa a costa.
Com a morte de Dom Carlos I, ascendeu ao trono seu filho mais novo, Dom Manuel II, já que o filho mais velho, Dom Luís Filipe, também fora assassinado no mesmo evento. Dom Manuel II foi o último rei de Portugal, governou por apenas 2 anos, até quem em 1910 foi implantada a República Portuguesa.
Os primeiros anos da República Portuguesa foram marcados por muita instabilidade, tendo ao fundo a I Guerra Mundial. Foram 9 presidentes e 45 primeiros-ministros durante apenas 16 anos, até quem em 1926 ocorreu um golpe militar que implantou uma ditadura que viria durar 48 anos, tendo Antônio Oliveira Salazar como seu caudilho principal. Esse período foi chamado de “Estado Novo”.
Nos anos 1960 e início de 1970, novamente a África veio a ter um papel central nas mudanças da política Portuguesa. As colônias portuguesas africanas (Angola, Moçambique e Guiné Bissau) fizeram um movimento libertário que culminou com sua justa independência. Mas isso não se deu em paz, a ditadura de Salazar resistiu, no que foi a Guerra Colonial Portuguesa.
Com a libertação das colônias e a morte de Salazar (em 1970, aos 81 anos), ganhou força em Portugal um movimento pelo fim do Estado Novo. Esse movimento culminou com a Revolução dos Cravos que eclodiu em 25/04/1974 e implantou o regime democrático que vigora até hoje.
Em 1975, durante um festival musical chamado “Eurovisão” o cantor Duarte Mendes interpretou uma linda canção chamada “Madrugada“, que celebra o retorno às “luzes nos umbrais que a tarde cega” conquistado através do sacrifício “dos que morreram sem saber porquê e dos que teimaram em silêncio e frio”.
Abaixo, a fenomenal regravação dessa canção por Tomás Figueiredo.
A letra dessa canção (reproduzida abaixo) é um hino à liberdade e à democracia. Um canto assim nunca é demais.
Dos que morreram sem saber porquê
Dos que teimaram em silêncio e frio
Da força nascida no medo
E a raiva à solta manhã cedo
Fazem-se as margens do meu rio.
Das cicatrizes do meu chão antigo
E da memória do meu sangue em fogo
Da escuridão a abrir em cor
Do braço dado e a arma flor
Fazem-se as margens do meu povo
Canta-se a gente que a si mesma se descobre
E acorda vozes arraiais
Canta-se a terra que a si mesma se devolve
Que o canto assim nunca é demais
Em cada veia o sangue espera a vez
Em cada fala se persegue o dia
E assim se aprendem as marés
Assim se cresce e ganha pé
Rompe a canção que não havia
Acordem luzes nos umbrais que a tarde cega
Acordem vozes e arraiais
Cantem despertos na manhã que a noite entrega
Que o canto assim nunca é demais
Cantem marés por essas praias de sargaços
Acordem vozes, arraiais
Corram descalços rente ao cais, abram abraços
Que o canto assim nunca é demais
O canto assim nunca é demais