O professor da Macedônia

É curioso pensar que Aristóteles não foi um filósofo grego, mas um professor macedônico. Hoje sabemos que a Macedônia, um dos países que surgiu com a divisão da Iugoslávia, é distinta da Grécia, com quem faz divisa. E mesmo no Século IV aC, era um reino independente, com seus próprios monarcas. O fato é que Aristóteles nasceu na Macedônia, em uma cidade chamada Estagira, perto da então capital macedônica, Pella, cerca de 400 km ao norte de Atenas. Não é errado, assim, chamar Aristóteles de “macedônico”.

Somente com 17 anos é que Aristóteles foi para Atenas, onde foi ser aluno de Platão. Lá ficou até a idade de 37 anos, quando então Platão morreu. Mas Aristóteles tinha profundas divergências com Espeusipo, sobrinho de Platão e que o sucedeu à frente da Academia. Por isso, saiu da Academia e instalou-se em Assos, cidade do Peloponeso, bem próxima a Corinto.

Pouco tempo depois, o rei macedônico Felipe II pediu para Aristóteles, com então 41 anos, voltar para a Macedônia para ser preceptor de seu filho, um garoto de 13 anos chamado Alexandre. Por sete anos, Aristóteles instruiu Alexandre. No “plano de ensino”, quase tudo, a natureza, a lógica, os animais, a sociedade, a matemática, a política, a poesia, a física e a ética. Aristóteles era um generalista, com grande visão e não há como negar sua influência nesse jovem, o qual, com a morte trágica do pai, tornou-se rei da Macedônia aos 20 anos e iniciou uma jornada que o transformaria em “Alexandre, o Grande”.

A grande lição que Aristóteles deixa a todos aqueles que escolheram a carreira do magistério é a mente aberta, a visão do todo. É o ensino amplo, eclético e holístico. É compreender que a divisão do conhecimento em especialidades cada vez menores é uma arbitrariedade humana e ensinar o aluno apenas pequenas peças, desconexas de um todo maior, é algo sem sentido, ou no mínimo ineficiente. É perceber que nossas modernas academias deixaram de valorizar esse professor mais amplo e passaram a prestigiar aqueles que cada vez sabem mais, sobre cada vez menos coisas, aqueles que Nietzsche viria a definir como  “especialistas em rachar fios de cabelo ao meio”.

Antes que chegue o dia em que tais especialistas saibam tudo sobre nada, aproveitemos o exemplo vivo do “professor” Aristóteles, fazendo da transdisciplinaridade não somente um vazio discurso bonito, mas uma prática concreta no dia-a-dia de nossas aulas.

Parthenon, Grécia (Atenas)

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