O dia-a-dia do professor

Aqui em casa, gostamos muito de cachorros, temos três. São lindos vira-latas, resgatados de condições de abandono nas ruas e que nos trazem muitas alegrias. Um deles em particular tem uma história bem triste. Eu o encontrei caído no chão, na véspera do Natal de 2015, quase morrendo, quando eu passeava com os outros dois cães. Ele mal conseguia andar, estava todo coberto de sarna, infestado de vermes, tinham cortado um pedaço de sua orelha e machucado um de seus olhos. Devia ter uns 10 anos de idade, ou seja, já tivera um dono e um lar quentinho, mas estava abandonado e maltratado. Acho que nunca vou compreender como pode existir tanta crueldade em algumas pessoas.

Bem, tratamos, demos banho, alimentamos e como ele era muito feio, resolvemos dar-lhe o nome de “Nzuri”, que significa “bonito” em swahili, idioma falado na Tanzânia e em outros países africanos. Até hoje Nzuri manifesta alguns traumas: não enxerga bem, não ouve bem e acorda sobressaltado no meio de seus pesadelos. Mas adora sua caminha e fica todo tempo junto comigo. Está ao meu lado agora, dormindo enquanto escrevo esse artigo. É um amor que não tem fim, eu me sinto abençoado por tê-lo recolhido.

A história do Nzuri me faz pensar no sofrimento que, de alguma forma, passam quase todas as pessoas, em especial nossos alunos. Afinal, quem não tem algum trauma, algum desgosto, alguma tensão ou alguma desilusão? Quando entramos nas salas de aula todos os dias e nos deparamos com 40, 50, às vezes mais alunos, não conseguimos imaginar por que problemas cada uma daquelas pessoas está passando. Mas muitas estão.

Então, cada palavra dita por um professor em sala de aula, cada gesto, cada expressão têm um efeito enorme. Os professores mais antigos sabem do que estou dizendo, conhecem o poder, para o bem e para o mal, daquilo que falamos em sala de aula e como deixa marcas por anos, às vezes para sempre, em nossos alunos. Quem é mais antigo com certeza já encontrou com uma pessoa na rua que disse: “oi professor, fui seu aluno há alguns anos, eu sei que o senhor não lembra de mim, mas nunca vou me esquecer de suas aulas”.

Temos, assim, uma fantástica oportunidade para acolher e ajudar inúmeras pessoas, a partir do trabalho que conduzimos com nossos alunos. Educar não é apenas “passar a matéria”, vai muito além disso, é se colocar no lugar da pessoa de quem aprende, entender suas angústias e ajudar a encontrar saídas.

Algumas escolas homenagem seus professores em determinadas épocas, especialmente aqueles que se destacaram no ano. É uma justa gratidão pelo exemplo e pela dedicação desses professores, eles merecem as homenagens que estão recebendo.

Mas é no dia-a-dia do trabalho de todos os professores que se dá a vida dos alunos. É em cada dia, assim, que a gratidão é devida a todos os professores que iluminam os passos dos alunos em busca de seus próprios caminhos.

Parabéns, professor, por mais um dia de trabalho. Boa aula!

 

 

 

3 respostas para “O dia-a-dia do professor”

  1. Oi Professor; voce sempre nos ensinou ale da materia, foi nosdo orientador da vida. Sou professora hoje inspirada em voce.

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