Liev Tolstoi (1828-1910) foi um escritor russo, considerado como um dos maiores autores de todos os tempos, com obras monumentais como “Guerra e Paz” e “Anna Karenina”. Está ao lado de outros grandes mestres da literatura russa, como Dostoievsky e Tchecov. Após uma juventude boêmia, se consagrou no seu país por suas obras literárias. Ao redor dos 40 anos de idade, Tolstoi era uma personalidade nacional.
Entretanto, sua consciência estava sempre incomodada. Perturbavam-no as restrições dogmáticas da Igreja Ortodoxa, a violência da guerra e a opulência dos ricos. Então, após o momento que ele chamou de “conversão”, se tornou vegetariano e passou a se vestir como os camponeses. Abriu mão de seus bens e dos direitos autorais de seus livros. Decidiu viver de forma simples e natural, dedicando-se à escola que criara para educar crianças camponesas, escrevendo ele mesmo os livros didáticos. Morreu aos 82 anos, vítima de pneumonia, segundo dizem, por viajar apenas na 3a. classe dos trens, dotada de precária calefação.
Pouco antes de morrer, Tolstoi recebeu uma carta do outro lado do mundo. Vinha de um homem de 40 anos de idade, que lhe escrevia de dentro de uma prisão. Tal homem afirmava ter lido seus livros e que admirava sua obra e suas convicções. Pedia-lhe permissão para traduzir seus livros. O homem era Mahatma Gandhi (1869-1948), que se encontrava preso na África do Sul, devido ao seu papel na luta pelos direitos dos indianos no Transvaal. A partir daí, começaram a trocar uma série de correspondências.
Tolstoi era 41 anos mais velho que Gandhi, tinha idade para ser seu avô. Gandhi passou a tê-lo como um mentor, um exemplo a seguir, chamava-o de “espelho”. Considerava-o como o maior apóstolo da não-violência, influenciado que foi, entre outros, pelo seu livro “O Reino de Deus Está em Vós”, inspirado na passagem bíblica do Sermão da Montanha.
Dois meses antes de morrer, numa de suas últimas correspondências, Tolstoi escreveu a Gandhi relatando um episódio acontecido em uma escola de meninas em Moscou. Dizia a carta:
“Um exame aconteceu, na primavera passada, numa das instituições de ensino de Moscou, quando o professor e o padre presente interrogaram as alunas sobre os Dez Mandamentos, especialmente o sexto («Não matarás»). Depois das respostas, o padre fazia às vezes uma outra pergunta: «O assassinato é sempre, em todas e quaisquer circunstâncias, proibido pela lei de Deus?» E as pobres alunas, instruídas na mentira pelos mestres, respondiam assim: «Nem sempre. O assassinato é permitido na guerra e também para castigar os criminosos». No entanto, uma delas, muito comovida e corando, respondeu: «O assassinato é sempre proibido, tanto pelo antigo Testamento como por Cristo; e não é só o assassinato, mas todo o mal cometido contra o próximo». Foi então que o padre teve de se calar, porque a aluna saíra vencedora.”
Com essa história, Tolstoi procurava mostrar para Gandhi a força das convicções. Anos depois, Gandhi veio a chamar isso de “a força da verdade”, registrada em sua genial autobiografia “Minha Vida e Minhas Experiências com a Verdade”.
Ensinar não é apenas “passar a matéria”. Não é somente fazer com que os alunos dominem conteúdos e que estejam preparados para o mercado de trabalho. Sim, isso é importante, porém ensinar, mais do que tudo, é formar para cidadania. É fazer, da própria vida, um exemplo de valores para que os alunos tenham referências em suas próprias buscas pela verdade.
Maurizio querido
a cada dia que passa te admiro mais – pelo conjunto da obra
vc é mesmo muito fodão – continue passando os seus profundos e abrangentes conhecimentos
obrigada por ser tão amigo e querido
como sempre, pílulas de sabedoria e, principalmente, de referência para o verdadeiro ato de educar
beijo
parabéns
Maurício (para mim ainda earthworm)! De tempos em tempos te visito neste blog, pois também me gusta la história. Parabéns pela deliciosa escrita e mensagens! Este texto particularmente me tocou porque, mais que nunca, sinto que não podemos perder o bonde da nossa história em sermos exemplos para os que nos cercam! Um enorme abraço. Paulo Matraca.
Legal, Paulo. A história é um fabuloso labirinto de conexões absolutamente inesperadas. E ela está lá, a nossa disposição, é só parar e degustar! Fiquei comovido com sua mensagem. Um abração!
gostei muito! informação que gera conhecimento e reflexão, e nos leva à sabedoria.
beijos,
Helena