Seriam o hinduísmo e o judaísmo ramos de uma mesma religião?

Há cerca de 5 mil anos, em algum lugar na região compreendida entre o rio Indo e os rios Tigre e Eufrates, surgiu uma corrente de pensamento religioso que iria se tornar a base de religiões seguidas por mais de 70% da população mundial.

No centro do mapa, a região compreendida entre a civilização Suméria e a do vale do Indo.

O hinduísmo

O hinduísmo é uma religião muito antiga, presume-se que tenha surgido há cerca de 4 ou 5 mil anos.  Sua origem está relacionada com a migração de um povo originário de uma região que corresponde hoje ao centro do Irã e que colonizou o vale de um rio chamado Indo, que nasce no Himalaia e deságua no Mar da Árábia, no Oceano Índico, atravessando o atual Paquistão.

Esse povo, conhecido com povo ariano, falava uma língua chamada sânscrito e, depois de ocupar o vale do Indo, ocupou também o vale do Ganges, outro rio que nasce no Himalaia, atravessando todo o norte da Índia, desaguando na Baía de Bengala.

Ao redor de 1500 aC, os arianos escreveram quatro livros chamados Vedas, que são a base da religião hindu ou hiduísta. Os arianos, por isso, são também chamados de védicos.

Ao redor de 500 aC, um hindu chamado Sidartha Gautama criou uma dissidência do hinduísmo, que veio a ser chamada de budismo e que hoje se encontra muito difundida no Tibet, no  sudeste asiático, no Japão e na China. Assim, o hinduísmo e o budismo são “parentes” e guardam muitos elementos comuns.

O judaísmo

Na mesma época e não muito longe dali, um pastor de ovelhas chamado Abrãao criava uma outra religião que veio a se tornar o judaísmo. Ou seja, o judaísmo também é uma religião muito antiga, de aproximadamente 4 a 5 mil anos.  Crê-se que Abrãao seja de um local chamado Ur que se localizava no vale dos rios Tigre e Eufrates, onde se estabeleceram as civilizações mesopotâmicas (Suméria e Babilônia).

No judaísmo, a semelhança do Hinduísmo, também houve uma dissidência, que foi o Cristianismo. Jesus Cristo, nascido judeu, criou uma religião que hoje é a mais difundida em todo o mundo, com algo ao redor de 2 bilhões de adeptos, considerando todas suas ramificações.

Cerca de 600 anos depois de Cristo, surgiu outra dissidência, criada pelo profeta Maomé, que veio a ser o Islamismo. Maomé não era nem judeu, nem cristão, mas a religião que criou foi fortemente influenciada pelo judaísmo e cristianismo, aceitando Abrãao e Cristo, dentre outros, como seus profetas.

Assim, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo são “parentes”, com muitos elementos comuns.

Ligando os dois ramos

Temos, assim, dois ramos religiosos importantes: (1) hinduísmo-budismo e (2) judaísmo-cristianismo-islamismo. Há muitas semelhanças na origem desses dois ramos, que parecem ser mais do que mera coincidência.

Em primeiro lugar, a época. Ambos surgiram no mesmo momento, algo ao redor de 4 a 5 mil anos atrás. Em segundo lugar, o local. Existem evidências arqueológicas que mostram que os arianos chegaram ao vale do Indo vindo do oeste, da região central do Irã. Essa região fica bem próxima do vale dos rios da Mesopotâmia, de onde se atribui a origem do judaísmo.

Outra evidência é o fato dos Vedas atribuírem a Brahma a origem do universo e do povo hindu. “Brahma” e “Abraham” são palavras muito parecidas. Além disso, diz-se que Brahma criou a mulher a partir de uma parte de seu corpo, algo muito semelhante à criação de Eva a partir da costela de Adão. A mulher criada por Brahma chama-se Sarasvati, e a mulher de Abrãao chamava-se Sarah.

No hinduísmo não existe proselitismo, ou seja, para ser hinduísta você precisa nascer hinduísta. A conversão a partir de outras religiões é complexa e dificultosa, sendo aceita somente em situações excepcionais, como é o caso de casamentos. O mesmo ocorre no judaísmo, não há proselitismo. Ambas as religiões são iguais nesse aspecto, ou seja, são de caráter familiar e hereditário, passadas de geração a geração ao longo dos anos, sem haver a busca por angariar novos adeptos de outras crenças.

O proselitismo só veio aparecer com as “dissidências” do hinduísmo e do judaísmo, já que havia a necessidade de angariar seguidores para as novas seitas. Buda pregou aos seus primeiros seguidores em Sarnat, Cristo começou com seus primeiros 12 apóstolos e Maomé pedia a Zayd registrar suas palavras naquilo que viria a ser o Alcorão, o livro sagrado do Islã.

Existem várias outras semelhanças que chamam a atenção. No hinduísmo, o ser celestial supremo é composto por uma trindade composta por Brahma, Vishnu e Shiva. Vamos encontrar algo semelhante no Cristianismo na trindade “Pai-Filho-Espírito Santo”. Outro exemplo, no hinduísmo, acredita-se que Vishnu tenha vindo à Terra em diversas oportunidades, sendo que em uma delas (na oitava) tenha assumido a forma de Krishna, com muitas semelhanças com Cristo.

Tais semelhanças entre o judaísmo e o hinduísmo levaram muitos estudiosos a acreditar que ambos (com suas ramificações) sejam expressões de uma mesma religião originada há 5 mil anos em algum ponto do atual Irã. Há muito material escrito sobre essa teoria, como é o caso do site Torahveda  que explora as semelhanças do Torah, o livro sagrado do judaísmo, e o Veda, o livro sagrado do hinduísmo.  Para os que querem textos mais acadêmicos sobre essa ligação, uma referência importante é o artigo intitulado “The Hebrews belong to a branch of Vedic Aryans”, publicado em 1976 por Madan Mohan Shukla. O artigo explora detalhadamente diversas semelhanças entre as duas religiões, incluindo vocabulário, costumes, lendas, etc.

A difusão dos ramos

A partir dessa origem iraniana, as religiões hindu-judaicas se espalharam por todo o planeta, estando presente em todos os continentes e praticamente em todos os países do mundo. Uma possível explicação para esse sucesso está em um aspecto comum: a redenção pela prática da virtude.

Todas as religiões hindu-judaicas acreditam que se uma pessoa for virtuosa, praticando o bem e sem apego material, ela irá após a morte para um local melhor, chamado paraíso ou nirvana. Isso não ocorre nas religiões ditas “pagãs”. Na maioria destas, os deuses representam elementos da natureza (Sol, Lua, fogo, água, vento, etc…) e a liturgia consiste usualmente na entrega de oferendas para obter benesses na vida terrena. Encontramos isso na mitologia greco-romana, nos rituais xamãs e nas civilizações americanas pré-colombianas. Ou seja, o bem é nessa vida, não em outra vida. Assim, se uma seca persiste, por exemplo, é porque as oferendas não foram adequadas aos deuses e o sofrimento continua.

As religiões hindu-judaicas, por sua vez, oferecem aos seus adeptos um conforto único, assegurando que todos os sofrimentos dessa vida serão recompensados na outra vida, se o fiel praticar a bondade e o desapego. Isso não existe em outras religiões. Nesse caso, se uma seca persiste, não há sofrimento, pois a adversidade faz parte do processo de purificação e, na outra vida, isso não irá mais ocorrer.

De qualquer forma, seja qual for a explicação, é inegável a difusão das religiões hindu-judaicas. Atualmente estima-se que existam no mundo cerca de 7 bilhões de habitantes. Desses, 1 bilhão não segue religião alguma. Do restante, cerca de 5 bilhões pertencem a religiões derivadas do judaísmo ou do hinduísmo:

Cristãos: 2,1 bilhões (metade são católicos)
Muçulmanos: 1,3 bilhões
Hinduístas: 870 milhões
Budistas: 380 milhões
Judeus: 14 milhões

Isso significa que de cada 5 crentes no mundo, 4 são de religiões que derivaram de um tronco comum que se iniciou há 5 mil anos em algum ponto de uma região que hoje corresponde ao Irã. O fato é, dessa forma, que a fé hindu-judaica se tornou onipresente no planeta, dominando quase todas as demais crenças pré-existentes.