Irão os robôs substituir os professores no futuro?

Se fizermos hoje uma busca no Google por “Haley Joel Osment”, vai aparecer um rapaz de barba, com 29 anos. Bem diferente da criança que estrelou o filme “Inteligência Artificial”, de Spielberg, ao lado de Jude Law. Mas isso foi em 2001, Osment tinha apenas 13 anos. Ele já tinha feito sucesso 3 anos antes, no thriller “Sexto Sentido”, ao lado de Bruce Willis. Naquela época, final dos anos 90, o mundo estava fervilhando. A Guerra Fria havia terminado e as novidades pipocavam por todo lado. A internet começava a se popularizar e todos já pressentiam as enormes transformações que estavam por vir.

Mas, de certa forma, elas não vieram. A primeira década dos anos 2000 foram problemáticas. O ataque às Torres Gêmeas, as crises econômicas americana e europeia, e a redução do ritmo de crescimento da China colocaram em cheque aquilo que parecia ser a “nova ordem mundial”, iniciada a partir da queda do Muro de Berlim. O terrorismo se acentuou, os cartéis de narcotráfico se sofisticaram e os cyber ataques passaram a ser uma nova ameaça, dando origem aquilo que Thomas Friedman, em seu recente livro chamado “Obrigado Pelo Atraso”, chamou de “mundo da desordem”. A Primavera Árabe e os movimentos como Occupy Wall Street fecharam a década, deixando claro que a tal “nova ordem mundial” ainda não tinha chegado para todos.

Então, de repente, tudo mudou novamente. De um ano para cá, um novo assunto passou a ocupar importante espaço na pauta da sociedade: os robôs e as máquinas inteligentes. Ou seja, foram necessários 16 anos desde a visão de Spielberg em seu filme, para que a inteligência artificial voltasse a ser tema de debates, reportagens e pesquisas. Uma importante razão para o fato foi o crescimento da capacidade de processamento dos computadores. Quando Osment tinha seus 13 anos em 2001, os computadores pessoais mais potentes tinham 32 Mb de memória, ou seja, cerca de 1000 vezes menor que os 32 Gb atuais. Em outras palavras, a grosso modo, a capacidade de processamento dos computadores de hoje é mil vezes mais potente. Essa nova capacidade permitiu fazer coisas que seriam impossíveis naquela época, dando origem a tecnologias como big data, machine leaning, deep learning, entre outras.

Com essas novas tecnologias, a internet começou a ficar inteligente. As buscas passaram a considerar as preferências do usuário, retornando resultados diferentes, conforme quem busca. As recomendações de compras, filmes, livros, etc., começaram a pular em todo lugar, dependendo dos hábitos e interesses das pessoas. Então vieram os chamados “chatbots”, sistemas que permitem ao usuário ser atendido por um mecanismo virtual através de um chat (bate-papo). Ainda são limitados esses chatbots, mas certamente vão evoluir. Quem não lembra dos primeiros mecanismos de tradução? Eram bem toscos, mas hoje existem aplicativos que já traduzem em tempo real conforme as pessoas falam. Não é muito promissor, a médio prazo, o mercado de trabalho para quem trabalha com tradução simultânea.

Não demorou muito para que as pessoas passassem a se perguntar: o que vai acontecer com o meu emprego? Atualmente, quase todo dia sai publicada uma matéria sobre o tema, falando das profissões que estão em risco e de quais estarão mais protegidas. O mesmo vale para a carreira de professor. A pergunta, então, é: o que será da carreira de professor no futuro? A análise do Google Trends mostra que as buscas por inteligência artificial na área de educação simplesmente triplicaram em um ano, em todo o mundo. Apenas no último mês, centenas de artigos foram escritos sobre o tema. Para alguns, como Anthony Seldon, da Universidade de Buckingham, substancial parte do processo educacional será feito por robôs em dez anos. O mesmo vem sendo afirmado em outras partes do mundo, tal como pode ser encontrado com Kibo, o robô criado em Singapura e que vem sendo usado com crianças.

É muito difícil prever com exatidão se robôs, de fato, vão substituir professores. Todavia, esse cenário nos remete às seguintes perguntas: Que tipo de educação praticamos hoje? Quão básicas e previsíveis são nossas metodologias educacionais a ponto de serem possíveis de serem implementadas por máquinas?

Em outras palavras, eu não tenho dúvidas que os robôs irão fazer parte de nossas vidas em várias rotinas, cada vez mais. Eu já tenho um robô em casa que faz a aspiração de pó no chão todos os dias. Mas aspirar pó e formar pessoas são coisas muito distintas. Aqueles que ensinam da mesma forma como aspiram pó em casa, esses sim serão substituídos por máquinas. Mas jamais será robotizado um processo de aprendizagem que se baseia na motivação e engajamento dos alunos e que tem, na afetividade, o cerne de sua estratégia.

Os robôs virão e vão nos ajudar a encontrar muitas respostas. Mas ainda será nossa a responsabilidade de fazer as perguntas.

2 respostas para “Irão os robôs substituir os professores no futuro?”

  1. Olá Prof. Mauricio, tudo bem?
    Parabéns pela clareza e relevância do seu texto.
    Em resumo quem dá aula como um robô será substituído por um…é isso?
    Na Metrocamp fui procurado pela INTEL para promover uma aproximação de nossos alunos de TI com as tecnologias IA que eles desenvolvem.
    Talvez esse tema professores/robôs/alunos/professores pudesse ser uma frente de pesquisa que pudesse envolver professores e alunos na DeVry e empresas de alta tecnologia…teríamos alunos e professores de diferentes áreas: Pedagogia e Computação para começar. Isso faz sentido?
    Abç

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